segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O que os "Felipões" e "Bernardinhos" podem aprender com os líderes empresariais

Executivos e gestores também têm muito a ensinar a técnicos esportivos, músicos e artistas, sempre utilizados como analogia para o sucesso no mundo corporativo.

Luis Felipe Cortoni*

Atualmente, o desenvolvimento e a capacitação de gestores e líderes nas empresas são encarados como matéria estratégica. Não deveria ser diferente, pois estão nas mãos destes agentes organizacionais tanto o cenário de futuro da corporação quanto seus resultados no presente. Isto já é assunto reconhecido e consagrado.

A partir desta “verdade” organizacional desenvolveram-se práticas, sistemas, programas, modalidades e metodologias para atender à demanda de treinamento destes agentes organizacionais. Como se as soluções das escolas de management não bastassem, existem, ainda, maneiras menos ortodoxas de capacitar líderes por meio de analogias e metáforas. As mais usuais e preferidas são aquelas feitas com as orquestras sinfônicas, jazz bands, treinadores de futebol, vôlei e outras modalidades esportivas, além daquelas relacionadas às artes e às ciências (que não administrativas nem econômicas).

Até aqui, e diante de alguns resultados encontrados, não há problemas, pois o fenômeno da liderança em geral, e nas empresas em particular, é complexo, e as organizações que se prestam a este tipo de abordagem metafórica mantém suas fronteiras abertas a tudo e a todos que possam, de alguma maneira, lançar entendimento e compreensão sobre essa complexidade. Mérito das organizações contemporâneas, pois assumem a dificuldade e não recusam ajuda. Com essa atitude, trilharam caminhos, chegaram a respostas (mesmo que provisórias), esclareceram, aprofundaram e elucidaram fatos.

Não é possível negar que o desenvolvimento dessa área da aprendizagem sobre pessoas avançou muito nos últimos anos –as escolas e treinamentos de management que o digam. No entanto, o caminho inverso, quer dizer, usar a analogia da liderança na empresa em outros espaços organizacionais, parece mais recente, pelo menos no Brasil. Sabe-se de algumas iniciativas em escolas, com professores e seus indicadores de resultados, em ONGs, que no fundo são empresas, e muito pouco mais. Não deveria ser um caminho mais explorado diante do desenvolvimento em tecnologia de educação e aprendizagem realizado nas (e pelas) empresas?

Na verdade, por que somente os líderes empresariais precisam aprender com outros? Será que sua experiência não pode ser estudada e aproveitada em outros ambientes organizacionais nos quais líderes são necessários? É óbvio que a resposta é positiva: líderes empresariais devem e podem contribuir.

Vamos pensar nas modalidades esportivas como exemplo. Assíduos freqüentadores de seminários, cursos e workshops de capacitação em liderança, técnicos esportivos dizem e dividem com suas platéias o que fazem para construir equipes vencedoras e como chegam, na maior parte das vezes, a resultados positivos. Falam de seus estilos, suas preferências, sua forma de entender a natureza humana e como exercer liderança sobre ela. São verdadeiros gurus, admirados, e têm fórmulas vencedoras e verdades para ensinar. Por que não podem aprender com a platéia que os assiste?

Vamos imaginar que levássemos um líder empresarial (não necessariamente um fundador ou um presidente), um gestor de negócio de uma empresa, por exemplo, para falar e ensinar técnicos esportivos a arte da liderança. O que estes técnicos poderiam aprender com ele?

Em primeiro lugar, e principalmente, falaria sobre como conseguir resultados e produtividade de equipes e pessoas em tempos de competição permanente (não só em um campeonato), com muita competência em controlar custos, qualidade e manter o bom clima organizacional. Além disso:
- flexibilidade e adaptabilidade para trabalhar em ambientes de mudança constante;
- modelos de gestão de equipes com semi-autonomia decisória;
- competências em gestão de talentos, conflitos e desempenho.

Parece que valeria a tentativa (se é que ela já não existe) e a troca poderia ser produtiva para os dois lados. Gestores organizacionais têm, sim, muita experiência para dividir e ensinar. A história das mudanças organizacionais nesta nova era foi, em grande parte, realizada pelas mãos de alguns destes líderes. No mínimo seria uma questão de fazer justiça, pois quem ensina também aprende e, então, nada mais lógico do que técnicos esportivos poderem aprender com essa experiência. E por que maestros, diretores de teatro e outros tipos de líderes não poderiam aprender com gestores também?

Já chegou a hora de fazer esse reconhecimento aos líderes e gestores de empresas. Eles também podem se transformar em analogia de aprendizagem para outros.

16/07/2008

Cortoni, Luis Felipe

Luis Felipe Cortoni, professor da Fundação Vanzolini (USP) e sócio-diretor da LCZ Desenvolvimento de Pessoas e Organizações.

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